Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Nhô Bento

Fonte: chinelo.

Vovó muitas vezes viaja para visitar uns parentes que ela tem lá na Laje dos Bentos. Eles são uma gente muita engraçada. Moram numa casa de fazenda velha e não se importam se ela está caindo aos pedaços. Acham que a vida é assim mesmo e o melhor é guardar o dinheiro debaixo do colchão para o caso de alguma necessidade.
Ela chegou de lá ontem a tarde e hoje de manhã já nos contou uma das aventuras do Nhô. Ele é seu irmão mais velho, já está com as vistas cansadas e anda contando os passos.  Disse que nos últimos tempos está com mania de economizar lenha e controla a quantidade de comida que a mulher faz.
Vovó ficou sabendo que no mês passado ele viajou numa romaria para pagar uma promessa. Dizem que lá pelas tantas da madrugada ele queria urinar e pediu ao motorista para parar o ônibus na estrada.
Nhô desceu do carro meio sonolento e nem percebeu que estava com calçado em apenas um dos pés. Fez suas necessidades e voltou para o lugar. Quando o motorista arrancou o ônibus, Nhô começou a gritar:
- Pára aí homi! Minha precata ficou lá no apeio ...
Voltaram para trás e ao se aproximarem do local avistaram um andarilho com uma precata na mão. Nhô foi logo dizendo:
- Se ôce acha que vai ficar com minha precata, tá muito engando. Passa ela pra cá!
O homem que nada entendeu, saiu em disparada. Assustado, o motorista resolveu que seguiria viagem sem Nhô recuperar seu calçado. 
Quando o dia amanheceu e ao destino se chegou, todos desceram e seguiram para os festejos.
 Nhô, muito contrariado, decidiu comprar calçados novos após a tentativa de andar descalço por algumas horas.  
O dia se foi e no retorno outra viagem noite a dentro. Pela manhã chegaram em casa. Depois de esvaziado o ônibus o motorista resolveu fazer uma revista geral para ver se os passageiros tinham esquecido algum pertence. E ... lá estava ela! Bem debaixo do banco, presa no pedal de descanso para os pés. A precata de Nhô Bento!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Dia de eleição


O sol ainda nem mostrava os primeiros raios e já podia-se ouvir vozes de quem passava na estrada rumo à cidade. Hoje é dia de festa, sem música e comida gostosa, sem convidados e com muitos obrigados. Vem gente de toda a redondeza, alguns insatisfeitos, outros orgulhosos, esbanjando vaidade no cheiro do perfume, na  bela roupa de domingo... É dia de rever os parentes, de encontrar os amigos, de saber da vida das comadres e dos compadres, de contar as novidades lá roça e de conhecer as mudanças ocorridas na cidade.
Os adultos aqui da chácara  levantaram-se bem cedo e foram se juntar ao povo da cidade. É dia de eleição. Vão escolher o novo prefeito e uma meia dúzia de vereadores para tomar conta da cidade. Tem gente que diz que político é tudo farinha do mesmo saco, eu não sei se é bem assim, porque falam isso mas vivem defendendo cada um o seu candidato.
Vovó, pela idade, já não precisa mais votar, porém faz questão de comparecer e se orgulha ao contar que deu seu voto para os Lana. Lana Avô é candidato a prefeito; Lana Filho e Lana Neto querem ser vereadores de novo!..   
A novidade desse ano é uma candidata apoiada pelos Faria, uma tal de Donana Pimenta, que  o povo daqui não conhece, mas que deve ser eleita por ter apoio dos Faria, gente de confiança para a  maioria da população.
Passamos a manhã no portão da chácara observando o movimento.Às vezes alguém parava e perguntava por vovó, como ela não estava nos pediam um  copo d’água e seguiam em frente. Até que apareceu tia Ana, nossa tia avó, com sua saia estampada e bem rodada marcando a cintura. Ela sempre é a primeira na fila para votar. Gosta de ir cedo e depois sai visitando os parentes aqui e ali, sempre contando casos e fazendo a gente rir.
Quando ela se esquece de um trecho dos casos, fica toda enrolada, dá uma gargalhada e diz assim:
- ... ah! É o cumé que chama!
E com a chegada dela entramos para dentro de casa, porque ela ia esperar por vovó e pelo almoço que Zefa estava preparando para nós.

sábado, 22 de outubro de 2011

Mamão afogadinho com carne cozida


Hoje o dia amanheceu chuvoso e bastante frio. Claro! Vovó não deixaria de preparar uma de suas receitas que nos ajuda a esquentar o corpo e espantar a friagem que gera os desgastantes resfriados fáceis de surgirem nesses dias de temperaturas inconstantes.
Logo cedo, foi até o pomar e trouxe uns mamões bem verdinhos. O prato do dia vai ser mamão afogadinho com carne cozida. Que delícia! Acompanhado de angu bem cremoso, feito com fubá de moinho d'água, feijão e arroz bem temperadinhos. Comida muito simples, mas quando feita com amor vira um manjar ...
Esse prato embora comum aqui em Minas, atrai muita gente sabida para o almoço na casa da vovó, por isso ela cozinha uma porção generosa. 
Quem chegou de mansinho e foi ficando , foi o dona Neném quitandeira. Ela vende umas quitandas muito gostosas todos os sábados, lá no caminho da Mina do Capão Bonito.
Sempre passa por aqui na volta para casa. Hoje estava muito molhada e Zefa emprestou roupas secas para ela. A conversa foi se prolongando até sair o almoço. Coitada! Mora sozinha com uma neta que de tão atrapalhada já não sai de casa. Por isso, tem que vender suas quitandas  para sustentar a menina. Está tão velhinha com os cabelos branquinhos escondidos debaixo daquele lenço estampado que usa na cabeça e ainda tem que trabalhar tanto assim. O pai da menina morreu de bebedeira quando ela ainda era criança e a mãe, que é sua filha, morreu no parto. A pobrezinha só tem a avó e dona Neném vive preocupada com o destino da menina. 

domingo, 2 de outubro de 2011

Dona Tatarabisavó Remunda


Imagem bolosciabyanarosacosta
 
 Hoje foi um dia daqueles que em que a casa ficou vazia. Logo cedo, Tia Bia passou por aqui  e levou Vovó para a chácara de Dona Remunda. Ela está completando cem anos! Tem muitos netos, bisnetos e tataranetos. Tia Bia é casada com um neto de Dona Raimunda e vai ajudar na preparação do almoço festivo, por isso foram para lá bem cedo.
Vovó foi  se juntar às outras comadres. Vai ser um dia agitado, onde de tudo um pouco todas vão contar algum segredo, e eu daqui de longe não vou ficar sabendo de nada... A chácara é muito longe e não teve como irmos todos pra lá .
Todos os anos ela comemora o aniversário, mas este é especial, porque comemora um século de vida.  Dizem que mandaram até anunciar na rádio da capital! Imagino como deve estar cheio de gente por lá. Todos que ficarem sabendo vão se sentir convidados e passarão para fazer uma boquinha...
Com tantos anos de vida, sempre alegre, vaidosa e cheia de vida, Dona Remunda é uma matriarca de dar inveja a muitas jovens da região. Durante toda a sua vida morou lá Recanto das Sempre Vivas. O terreno foi herança de um negro cativo que o havia adquirido como prêmio por ter salvado seu senhor das garras de uns cobradores de dívida que  viviam perseguindo o homem em todo lugar.
E assim, após o cativeiro, seus descendentes ficaram habitando o lugar e hoje Dona Remunda é a guardiã não só dos documentos de posse, mas também dos segredos da família.
Sei que essas festas de lá, assim como as que se fazem aqui, são muito boas para se abastar de doces e comidas gostosas, e também para se ver gente. Gente de todas as partes, que a gente observa e depois sai por ai comentando, assim como eles comentam sobre nós...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Tia Maria


E assim mais um dia começou...
Eram pouco mais de cinco e Zefa já coava o café. Vovó estava acordada e apoiada no travesseiro sob a cabeceira da cama, recitava o terço em baixo tom pedindo, a Deus proteção para o dia que se iniciava.
O sol  reluzia na janela. É primavera. Os dias agora são mais longos e alegres. Muito sol, flores e pássaros de galho em galho entoam seus cantos.
De repente ouvimos o barulho do portão de entrada se abrindo. Quem poderia ser naquela hora?
Passos leves e um toc-toc na porta ... pronto! Num instante o barulho dos chinelos de Zefa anunciava que havia dado a volta ao redor da casa para atender a porta. Ela bem sabe que abrir a porta da casa nas primeiras horas manhã é coisa que atrapalha quem está dormindo.
- Bom dia Zefa! Esse povo ainda tá durmindo?
Pela fala era Tia Maria. Ela sempre faz isso! Levanta de madrugada e sai para visitar os parentes. Na verdade, nem sei se ela chega a dormir. E se dorme, deve deitar junto com as galinhas, nas primeiras horas do anoitecer!
Foi entrando casa a dentro e direto no quarto da Vovó. Logo falando aquelas coisas que todo mundo sabe que na verdade é para dar um pito, fazer agente sentir vergonha.
Vovó fica muito brava com o jeito dela, mas não consegue demonstrar na hora. Tia Maria é bem mais velha do ela. É a irmã mais velha do meu falecido avô. Cheia de manias e muito, mais muito sistemática. Fica com raiva por qualquer coisa, então, os mais velhos acham que o melhor mesmo é relevar o que ela diz ou faz.
Depois de percorrer todos os quartos e ficar falando que não era preciso levantar por causa dela, seguiu para a cozinha e sentou-se à mesa para tomar o café e prosear. Perguntou a Zefa sobre tudo e todos. Gosta de ter o controle sobre a vida dos parentes.
Aos poucos fomos nos levantando e em pouco tempo todos já estávamos na cozinha escutando suas novidades.
Depois de dar uma volta no quintal, quis algumas mudas de flores do jardim. Sempre leva as mesmas  e não sei porque elas nunca pegam...
De tanto andar pelo quintal, pisou em falso e um de seus chinelos arrebentou a correia. Pensamos que teríamos de emprestá-la um calçado, mas de repente ela abriu a sacola e tirou lá de dentro uma outra sacola com uma bolsinha de tecido estampado. Abriu-a e pegou uma agulha bem grossa e um pedaço de barbante. Ajeitou o barbante na agulha e costurou a correia do chinelo...
Então disse:
- Já são mais de 9 hora e eu tenho que i imbora purque tá ficano tardi!
Despediu de todos, e embora vovó tenha feito o convite para o almoço, ela preferiu ir embora, pois seu dia já estava ganho e era hora de se recolher e descansar.  

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A morte do juiz de Capão Bonito



Chegou correndo e assustado. Seus olhos arregalados não escondiam o pavor que estava sentido. Todos ficamos quietos, calados, olhando fixamente para aquele rosto desfigurado, a espera de uma explicação. Ele não conseguia falar. Estava pálido e suava frio. Foi então que Zefa correu até a cozinha e voltou com com um copo d'água para que ele bebesse. Pegou-o pela mão e o acomodou no banquinho debaixo da janela. Tremia ... aos poucos começou a murmurar umas palavras, mas ninguém conseguiu entender nada.

- O que está acontecendo menino? Perguntou Vovó.
- Morreu alguém? Viu assombração? Continuou perguntando.

Nesse momento fez uma sequência de " em nome do pai ". Todos ficamos olhando assutados com a situação de desespero do primo Jorge. Afinal, ele saiu cedo para jogar bola com uns amigos e volta desse jeito!?

Depois da fase aguda dessa crise de pânico, Jorge contou -nos o que havia acontecido e nem acreditei que pudesse ser verdade uma coisa dessas, mas em todo caso, vou ficar bem caladinha para não dizerem que estou abusando da fraqueza alheia. Assim que puder vou perguntar tudinho ao padre João de Deus.

Jorge disse que quando chegou lá no Capão Bonito encontrou o campo vazio. Caminhou até as casas mais próximas para ver se conseguia ter notícias dos amigos que jogam no time. Tinham marcado o jogo para as 10 horas, faltavam 10 minutos e o campo estava vazio. 

No caminho encontrou Sô Lião, um velho que anda todo o vilarejo apoiado na bengala e que sabe de toda aquela gente do lugar. Foi informado da morte do juiz que ia apitar o jogo. Então deduziu que todos estavam no velório e rumou para o lugar indicado. Lá estavam todos os jogadores, os moradores do lugar e padre João de Deus  que para lá foi afim de encomendar a alma do morto.

Enquanto o padre rezava, as filhas de Maria entoavam cantigos funebres, outros sussuravam a reza do terço e uma grande maioria lamentava aquela morte fazendo o tradicional julgamento das boas e más obras praticadas por aquele homem em vida. Uma espécie de julgamento de Osíris.

O padre rezava e salpicava água benta no corpo estendido na velha padiola. Caixão naquelas bandas é para poucos. Começou a benção pelos pés, que alguns, depois do ocorrido, juram terem visto se mexer quando gotas de água fria neles foram salpicadas pelo sacerdote. E foi distribuindo gotas de água benta corpo acima, até que ... quando chegou a vez do rosto deu a brocha para o sacristão molhar enquanto fazia o sinal da cruz sob a cabeça do defunto.

O sacristão, muito distraído, não tirou o excesso d'água da brocha e quando o padre salpicou a água ... deu um banho de água fria no rosto do morto que se levantou na hora, pois não estava morto, estava desfalecido.

Num instante, saiu o sacristão correndo porta a fora e atrás dele metade dos presentes naquele velório. A outra metade saiu pela janela tal como fez o padre. Na confusão, o morto também se assustou e saiu porta a fora correndo, não sabia  ele, dele mesmo ... espalhou gente para todos os cantos. E foi dessa maneira que primo Jorge chegou aqui na na casa da Vovó com jeito de quem havia visto assombração.
E não é que ele viu!?

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um segredo de família

Há coisas que nem imaginamos encontrar pelo caminho. Como a carta que vi vovó tirar do baú. Ela guarda uns papeis antigos dentro de uma caixinha de papelão, que na verdade é uma antiga caixa de sabonetes. Muito bonitinha, velha, mas tão limpinha que dá gosto de ver.

Vovó ficou um bom tempo lendo e relendo a carta. Até que não resisti e me aproximei. Pensei que ela iria me mandar sair, mas para a minha surpresa ela me deu a carta para ler. Nem acreditei quando olhei seu braço estendido com a carta na mão, esperando eu pegá-la para ler.

No primeiro momento me chamou a atenção a caligrafia de aparência muito antiga. Antiga e toda certinha! Um capricho só! Depois fui me prendendo à leitura que trazia o relato de um segredo de família que até então eu desconhecia.

" Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1955.

             Minha querida irmã,

            Escrevo-lhe com o coração aflito, pois bem sabes que há dois anos estou sem saber notícias de minhas crianças que contigo deixei enquanto vim tentar refazer minha vida aqui na Capital do país. Espero em Deus que essa carta encontrem todos gozando de muita paz e saúde.

           Sei que somente Deus poderá lhe recompensar pela bondade que tens demonstrado cuidando e criando dos meus filhos. Efigênio, Lia, Cecília e Marília. Quatro pedaços de mim que por força do destino tive que deixar para trás. Fico imaginando como devem estar crescidos e bonitos. Sim, pois tenho confiança nos seus cuidados de mãe para com eles. Ontem foi aniversário de Lia, acho que agora você vai poder deixá-la frequentar a escola  e o catecismo. Ela já tem sete anos, meu Deus!!! Que saudades!

           Sei que você deve estar imaginando como tenho me virado por aqui. Digo-lhe que não se preocupe comigo, já consegui um trabalho honesto e tenho um bom ordenado, estou até pensando em enviar um pouco de dinheiro todo início de mês para ajudar nas despesas com as crianças. Sei que você não precisa disso, mas faço questão de ajudar e assim que puder darei um jeito de buscá-los para viverem comigo.

           Uma novidade que tenho é que me casei novamente. Isso mesmo! Meu novo marido é viúvo e tem dois filhos já casados. Nós moramos num bairro muito antigo e tranquilo que fica bem perto do centro da cidade. Chama-se Santa Teresa. Sei que você deve estar se perguntando como consegui me casar se já sou casada aí em MG. Não vou mentir para você. O medo de ser encontrada pelo pai dos meus filhos foi tão grande naqueles anos terríveis, que mudei de nome e assumi outra identidade. Disse no cartório que nunca havia sido registrada e me registrei com  outro nome. Agora me chamo Joana Pires de Sanches.

            Quando penso em nossa gente, aí pelas bandas de Minas fico toda arrepiada de saudades e disparo a chorar. Lembro de nossas pescarias, das comidas da mamãe (que Deus a tenha!), das festas no Ribeirão, dos biscoitos de Vovó Luzia ... Ela ainda é viva? se for já deve ter mais de cem anos, não é mesmo? Lembro bem do seus vestidos longos e brancos, tão longos que varriam a poeira do caminho por onde passava.

            Vou me despedindo por aqui, na certeza de que em breve eu e meu novo marido iremos a minas buscar meus filhos. Um grande abraço para todos aí. Fiquem com Deus e abençoe os meus filhos por mim.

            Da irmã que roga a Deus por ti todos os dias, e que nunca te esquece.

             Josefina da Cruz, agora , Joana Pires de Sanches. "
  

Agora entendi porque às vezes acho alguns da família tão diferentes da maioria. É que na verdade são primos de mamãe e sobrinhos de Vovó. Ela me disse que essa foi a única notícia que a se teve na família da irmã que foi para longe ... 

sábado, 3 de setembro de 2011

O sumiço do bolo

Imagem cybercook2.terra
Acordamos bem cedo e fomos caminhar na estrada principal. Nestes dias quentes de quase primavera todos acordam animados e imaginando as travessuras possíveis de fazer.
Vovó foi conosco. Zefa tinha ído com minhas tias fazer uma limpeza no paiol.
Caminhamos até a venda do Honório. O lugar é uma mistura de casa e comércio, pois ele e a esposa moram lá, plantam, criam aves e vendem de tudo um pouco. De tempero a cachaça. 
Vovó queria comprar ovos de pata para dar gemada ao Serafim. Ele está mudando a voz e ninguém está mais aguentado ouvir aquele barulho de taquara rouca.
Serafim é um moleque que foi abandonado pela mãe quando nasceu. Ela trabalhava no sítio e conheceu um caixeiro viajante que passou uns dias aqui nas redondezas. Os dois se enrabicharam e ela ficou barriguda. O tal homem foi embora sem deixar rastro e então, nasceu o Serafim.  Dois meses depois Mariquita foi embora e largou o menino nos braços de vovó.
Nossa andança durou quase duas horas. Nos divertimos muito e bateu uma fome danada. A sorte é que havíamos deixado  na mesa de café um bolo quase inteiro. Planejamos comê-lo assim que chegássemos em casa.
A mesa de café ficou posta na varanda. Cobrimos tudo direitinho antes de sairmos, para mosquito e passarinho não alcançar.
Qual foi a nossa surpresa ao chegarmos em casa e irmos direto para a mesa de café?
O bolo já não estava lá! Perguntamos a Zefa e ela disse que não tinha visto ninguém comer. ficamos desapontados e intrigados com o sumiço do bolo.
Debaixo do pé de pitanga, um olhar com jeito de quero mais, assume a culpa. Peludo, branco e com manchas pretas, com o rabo abanando a zombar de nós...

domingo, 28 de agosto de 2011

Caboclo D'água


 fonte:   jangadabrasil
Hoje Francisca foi veio para o almoço sem ser convidada. Ela sempre faz isso e nem se envergonha de sentar-se à mesa e se fartar. Nem tem paciência de esperar a comida ficar pronta. A todo momento pergunta quantas horas já são e diz que tem que ir embora porque não pode chegar tarde em casa. Também com o cheiro do picadinho de mamão que vovó preparou ...
É o tipo de pessoa que levanta antes do galo cantar e vai dormir assim que anoitece. Anda o dia todo e sabe da vida de toda parentada.
A desculpa dela hoje foi a de que não podia ir embora tarde porque tinha que atravessar o rio e estava com medo do Caboclo D'água aparecer pra ela. Isso devido a uma conversa que surgiu lá pelos lados da Ponte Quebrada, onde um grupo de meninos que estavam nadando no rio disseram terem sidos atacados pelo tal Caboclo D'água. Eu não me importo com essas conversas. Sei que é tudo confusão desse povo que desconhece a lenda. Imagine se tem condições de morar um homem submerso nas águas do rio...
O que existe mesmo  e eu já vi, é a Mãe do Ouro. Essa ataca mesmo!!! Toda vez que alguém tenta encontrar o seu tesouro enterrado lá atrás da serra, ela aparece com sua calda brilhante e quando o sujeito fica olhando demais pra ela, acaba ficando cego.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pica Chão, faz qualquer negócio!



Sempre solitário em cima de seu alazão. Assim vive o caminheiro João da Cruz, mais conhecido como Pica Chão, pelas infinitas horas abrindo picadas no chão do sertão. É o tipo pau para toda obra. Leva recados, mercadorias e  quem quiser subir na sua garupa. Vai a qualquer parte da redondeza e em troca recebe o que o freguês puder pagar. Galinhas, leitões, farinha, dinheiro, ovos, frutas frescas, verduras, roupas usadas, feixe de lenha e assim vai a lista que enche sua bruaca e serve de moeda no comércio que faz por onde passa. Pica Chão, faz qualquer negócio!
Vovó está ansiosa por sua chegada. Ela vai mandar entregar uma daquelas jarras antigas que ela guarda no baú, lá na fazenda Barra Limpa, pelas bandas do Córrego Fundo. Zé do gole está doente e sua mulher, Zefa de Serafina de Zé Gato, precisa dela para facilitar os cuidados com o moribundo que não sai mais da cama. Essa gente joga fora tudo que é antigo e quando precisa ...
Pica Chão vai trazer também uma encomenda para Vovó. Vem lá de São Gonçalo de Cima, da casa de Terezão, primo distante de meu falecido avô. Terezão parece ser apelido de mulher, uma daquelas bem grande e gorda, mas nesse caso não é.  Terezão na verdade é  apelido, pois o nome dele é Arlindo Gonçalves. Dizem que o apelido veio pelo fato de que quando ele se casou fazia questão de ajudar a sua mulher nas tarefas da casa e os outros homens da família achavam um absurdo! Como sua mulher chama-se Tereza, deram a ele esse apelido.
Enquanto esperamos Pica chão chegar, vou aproveitar para dar um jeito de convencer Vovó a me deixar trocar com ele duas galinhas garninzé por um queijo serrano bem grande e um pote de goiabada cascão. Delícia!!!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Dividindo as almas ...

Hoje tivemos roda de prosa depois do jantar. Vovó sabe muitas histórias engraçadas, e foi um daqueles dias em que ela quase nos matou de rir. Riquinho de dona Maria do Lamento, veio trazer uns ovos de galinha d'angola para por no ninho das chocadeiras, ficou ouvindo a prosa, riu tanto que chegou a molhar as calças e teve que ir embora às pressas. 
Vovó contou que no cemitério lá de Passa Ninguém, havia um abacateiro carregado. O povo observava as frutas, mas ninguém tinha coragem de comer fruta colhida em cemitério. Para piorar a situação o vigia achava falta de respeito mexer nas coisas que ele conservava para os mortos. Mas mortos não comem abacates!!!
Então, dois amigos combinaram de entrar lá a noite e apanhar os abacates para venderem na Freguesia de Cima. Assim, ninguém iria ficar sabendo quem pegou os frutos e quando a notícia do sumiço se espalhasse, quem os comprou já haveria de tê-los comido e nem se lembrariam ...
Eles pularam o muro, subiram na árvore com as sacolas penduradas no ombro e começaram a dividir os abacates:
- Um pra mim, um pra você...
- Um pra mim, um pra você...
De repente caíram dois abacates do lado de fora do muro! Um dos homens disse:
- Tem problema não. Quando a gente terminar aqui, nós pegamos os de lá! 
O outro respondeu:
- Então tá bom, mas um pra mim e um pra você...
Um bêbado passava do lado de fora do cemitério e escutou a conversa de "um pra mim e um pra você" e saiu correndo para a delegacia.
Chegando lá, disse para o guarda:
- Seu guarda, vem comigo! Deus e o diabo estão dividindo as almas lá no cemitério!
O guarda não acreditou na história, mas para ficar livre do bêbado resolveu acompanhá-lo até o cemitério.
Chegando perto do muro começaram a escutar:
- Um pra mim, um pra você ...
O guarda arregalou os olhos e disse:
- É verdade! É o apocalipse! eles estão dividindo as almas dos mortos e o que será que vem depois?
Continuaram escutando, tremendo, suando frio ...
- Um pra mim, um pra você ... Pronto! Acabou. E agora?
O outro respondeu:
- Agora a gente vai lá fora e pega os dois que estão do outro lado do muro ...
O guarda olhou para o bêbado e ...
- Coooooooooooooorre!!!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Chá sabugueiro e cama !!!

 
Imagem tirada no ecosanto
 
Primo Zeca está com bolhas d'água no corpo todo. São bem miudinhas mas já percebi que é coisa que pega. Renatinha disse que deve ser catapora, mas vovó não arrisca dizer o que pode ser, porque Zeca não teve febre ainda ... No fundo, acho que ela não quer é nos assustar. Mandou chamar o Batistinha, o moço que cuida da horta e do quintal e pediu a ele para buscar algumas folhas e flores de sabugueiro.
Imagino que ela vai fazer um chá para o coitado do meu primo, pois é para isso que servem as ervas que ela cultiva com tanto cuidado. Esses chás costumam serem amargos e ela nos obriga a tomar uma chaleira inteira ...
Eu não conhecia sabugueiro. Como sou muito curiosa, pedi ao Batistinha para eu ir junto sem que vovó percebesse, porque desde que a Maria Pureza foi picada por uma cascavel e morreu envenenada, os adultos daqui não gostam que entremos no mato cerrado. Se a ordem era buscar folhas no mato, não havia outro recurso a não ser atravessar o pasto e procurar lá na beira da grota. Batistinha disse que a antiga horta ficava lá e muitas ervas que foram plantadas antes de vovó mandar fazer a horta  do quintal  é lá que vamos encontrar. São plantas que viraram árvores.
Calcei um par de botinas velhas que estava no barracão e fui junto para conhecer o pé de sabugueiro. No caminho Batistinha me contou que é uma árvore que dá flores brancas e frutos da cor de jabuticaba. Com as folhas se faz chá para quase tudo, principalmente para por as brotoejas para fora.. É uma planta meio sagrada, pois foi de uma igualzinha a que vimos, que cortaram a madeira para fazer a cruz que Jesus carregou para o calvário.
Assim fiquei sabendo que catapora e brotoeja são parentes. Pela quantidade de sabugueiro que vovó mandou trazer,  todas as crianças da casa terão que beber do chá, para por logo para fora do corpo as cataporas.
Vovó disse que essa doença é contagiosa e se pega muito fácil quando temos contato com alguém infectado. Sei que se eu tiver muita sorte não terei  cataporas, mas de tomar o chá eu não vou conseguir escapar ... Já estão me chamando ... Vai ser chá de sabugueiro e cama!!!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Quando eu era pequena


Quando eu era bem pequena e não tinha idade para frequentar a escola, meu maior sonho era completar a idade que permitiria a meus pais me matricularem numa escola. Eu era louca para frequentar as aulas e sempre ficava no portão de casa nos horários de entrada e saída das crianças do grupo escolar, só para vê-las passar uniformizadas, de pasta e merendeira.
Naquele tempo, a merendeira das meninas era cor de rosa e a dos meninos azul. Lembro-me até hoje da minha, tive uma só! O lanche que ia lá dentro variava muito pouco. Era pão com manteiga e Qsuco de morango, daquele que deixava a língua vermelha de tanto corante. Algumas vezes levava frutas e até pipocas. Na escola só havia merenda gratuita para quem comprovasse ser muito carente. Eles tinham uma ficha que era apresentada à cantineira. Como eram poucos, ela conhecia a todos e nem dava para tentar trocar com eles o lanche que levávamos de casa pelo servido na escola, porque para piorar a situação ela sempre os sentava enfileirados nos bancos da cantina e ficava de olho para eles não deixarem sobras no prato. Na verdade, nunca soube o gosto daquela merenda ...
Havia também a venda de guloseimas, mas eu não ganhava dinheiro para levar. Nesta me dei bem algumas vezes,  quando mamãe colocava na minha lancheira uma maçã bem vermelhinha e grande. Na inocência de criança, eu vendia a maçã a preço de um piriluto Zorro. Minha mãe nunca soube dessa minha burrice!
Mas eu gostava de estudar. Talvez por isso, certa vez quando passamos uma semana na casa de vovó e minhas primas mais velhas já frequentavam a escola, mamãe me autorizou a ir com elas e eu fiquei toda empolgada. Lembro-me que minha tia me deu um caderno e um lápis com borracha na ponta. Achei o máximo!!! Fiquei toda mitida e fui com as primas para a escola.
Como nunca havia entrado numa sala de aula, tratei logo de me fartar em conhecimentos, fazendo tudo que a professora me pedia com tanta rapidez que ela até duvidou de ser a minha aula. Era uma escola rural muito pequena, na verdade com apenas uma sala de aula, mas eu me senti realizada.
Um fato interessante que ocorreu nesse dia foi um touro chamado de Tango, muito bravo, ter corrido atrás da gente na volta para casa. O caminho era uma trilha no meio do pasto. Lembro-me bem do córrego com água bem limpinha que descia ao longo do caminho e adentrava pelo quintal da vovó. Era bem caudaloso e meus tios fizeram ramificações para levar água até a horta. Bem no meio do quintal havia uma minúscula queda d'água que formava um poço onde era lavada a roupa da casa e areadas com cinza e areia as panelas usadas no fogão à lenha. Êta tempo bom que não volta mais! Vovó se foi, o terreno foi vendido e transformado num moderno chacreamento ...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Canjica para espantar o frio !

Para vocês uma dica das vovós de Sabará! Nessa cidade faz muito frio durante a noite e pela manhã. Para espantar o frio as mulheres mantém o costume de ter em casa canjica cozida para ser degustada antes de dormir, misturada ao leite bem quente e açúcar, o mesmo pode ser feito pela manhã. O resultado é uma boa noite de sono e disposição para enfrentar a neblina da manhã a caminho do trabalho ou de outros afazeres.

domingo, 26 de junho de 2011

São João, acende a fogueira no meu coração!


wikipedia
E assim terminou o São João. A noite mais fria do ano tirou meu ânimo de escrever o que aconteceu na casa da vovó e só hoje, dois dias depois me atrevo a contar. Nem a fogueira acesa afastou o vento frio. Acho até que é por isso que se canta aquele verso " São João, acende a fogueira no meu coração". Mas de tão boa que estava a festa, poucos conseguiram arredar os pés do quintal.
Fizemos a brincadeira da faca na bananeira. Só Maria Polidora conseguiu descobrir a letra. Ficou toda contente e achando que é melhor do que as outras moças. Tirou um R. Será R de quê? Ribamar? Rui da Cuia? Ronaldão do Sô Zé Valente? Ninguém sabe quem será laçado. Mas todo mundo já sabe que o nome do coitado começa com R. A brincadeira da faca na bananeira só pode ser feita na noite São João e é assim: as moças compram na feira da cidade uma faca virgem e antes da meia noite procuram uma bananeira sem cacho e fincam a faca no tronco. Deixam lá até passar a meia-noite e depois retiram. Se for dar casamento, no lugar da marca do furo vê-se uma letra, que é a inicial do nome do futuro marido.
Teve também o ato de fé. Quem quiser pode passar descalço à meia-noite sobre as brasas da fogueira, que segundo os mais velhos, não queima os pés. Eu nunca tive coragem, mas há quem teve. Muitos passaram sobre as brasas. Alguns queimaram os pés sim, vovó disse que é por falta de fé! 
No geral a poeira levantou durante o arrasta pé regado a quentão e cachaça, caldos, canjica, doces, pipocas e outras coisas  boas. Tio Joãozinho caprichou na festança, aliás, como faz todos os anos desde que encontrou a bandeira de São João no caminho do açude. De lá para cá nunca mais se atreveu a deixar de festejar o São João e somos nós que aproveitamos ...  

sábado, 11 de junho de 2011

Festa para Santo Antonio

Imagem  serrolandianoticias
Hoje levantamos mais cedo que o costume. É dia de festa e tínhamos muito trabalho para realizar. Todos os anos, desde que tio Antonio nasceu, Vovó comemora o dia de Santo Antonio. É uma tradição aqui da região. Basta que se tenha alguém na família que se chame Antonio ou Antonia para que haja festa na casa. Dizem que antigamente o nome das crianças era escolhido de acordo com o calendário religioso e como quase todos eram católicos os nomes eram em homenagem aos santos, anjos e datas festivas como por exemplo se nasce no Natal, colacava-se o nome de Natalino(a), na Páscoa; Pascoal ou Pascoalina.
Tio Antonio mandou erguer uma fogueira de seis metros e o mastro que será levantado para a reza está todo enfeitado de papel crepon de várias cores. Bem no alto ficará o estandarte de Santo Antonio, costurado em tecido de saco de linhagem decorado com fuxicos coloridos e muitas fitas. 
Limpamos o quintal com vassouras de alecrim do campo e decoramos com bandeirinhas e balões de papel que dona Zezé nos ensinou a fazer. Está tudo uma beleza só!
Na cozinha Vovó comanda as mulheres que vieram ajudar a fazer os comes e bebes: canjica, quentão, pipoca, caldos, broas, doces em pedaços ...
Vamos ter também um bom arrasta pé. Quem vem tocar é Sô Juca sanfoneiro e Zé Gago do  cavaquinho. Claro! Com certeza Maria Frô tocará o pandeiro, pois ela é muito aparecida e sempre sai por aí atrás dos dois tocadores de moda.
Bom, como eu não quero perder nadica de nada dessa festa, vou parar de escrever e correr para me arrumar. Quero ver quem vai ter coragem de botar o santo de cabeça para baixo no copo d'água ou jogá-lo pela janela. Quem cozinhou ele no feijão eu já sei ... foi Zefa! Ela pensa que ninguém viu, mas eu estava lá na cozinha quando ela olhou para os lados, colocou a imagem dentro da panela e tampou. E sabe pra quê tudo isso? Só para arrumar marido!         

sábado, 14 de maio de 2011

DEUSQUEMQUIS


Imagem de pascom


O sábado está agitado por aqui. A "reza de maio" hoje será na casa da vovó. Uma tradição do tempo que eu ainda nem tinha nascido. Naquela época a maioria do povo era devoto de Nossa Senhora do Rosário e, as rezas eram muito mais animadas. Mesmo assim, Vovó faz questão de manter a tradição e faz tudo para que seja grande a renda dos leilões e que as crianças brilhem na coroação. Ela tem vestido de anjo para quem quiser participar. São muitos ... todos bem branquinhos e bordados, com asa de anjo, tiara e tudo. Eu vou usar o que foi de mamãe.
Quem chegou logo cedo para ajudar foi Rita de Maria Deusquemquis. Ela tem muito jeito para decorar o altar e ajeitar os leilões em embalagens bem bonitas. Rita é filha de Maria, que  é cunhada de tia Terezinha e filha de Deusquemquis.
Deusquequis já morreu há uns vinte anos, mas quem o conheceu não esquece da origem de seu apelido. Seu nome de batismo era Josino da Silveira, mas todos o chamavam de Deusquemquis. Ele era professor da escola rural lá do Alto da Cruz. Dizem que era muito pouco interessado em responder perguntas de seus alunos e quando alguma criança lhe perguntava coisas que ele não queria responder, sempre dizia :
-  Foi Deus quem quis!
E assim passou sua vida, se livrando de muita explicação sobre as coisas que lhe perguntavam. Afinal, se foi Deus quem quis que fosse assim, não adiantava insistir, porque a vontade de Deus é para se obedecer e não para ser discutida. Era uma ordem e ponto final. 
Deusquemquis teve mais de uma dúzia de filhos. As mulheres todas se chamam Maria, Maria de alguma coisa ... E quando lhe perguntavam o motivo de todas terem o mesmo nome ele respondia:
- Foi Deus quem quis.
Por se chamarem Maria, todos os anos de suas vidas acompanham as "rezas de maio"!
Será que é porque Deus quem quis!?

terça-feira, 10 de maio de 2011

De onde vem o pó do cafezinho da vovó?



Hoje Milu veio passar o dia aqui na casa da vovó. Ela é tão pequenininha e ao mesmo tempo tão danadinha! Com seus quatro aninhos de vida já consegue fazer perguntas que deixam aos menos avisados sem resposta.
Imagine que logo ela que mora na cidade e só gosta de beber leite achocolatado resolveu pedir à vovó um cafezinho!!! Claro que vovó levou um susto,mas com muita rapidez a vovó passou um café quentinho e lhe deu uma xícara. Um café daqueles bem nato da fazenda. Forte! Que é para ir se acostumando com os hábitos da família. E teve que beber tudo, porque na casa da vovó criança não deve deixar nada no copo ...
Depois do cafezinho, um tanto quanto demorado para ser degustado, veio uma pergunta:
- Vovó, de onde vem o pó que a senhora usa para fazer esse café?
Vovó olhos fixamente para Milu, segurou sua pequena mão e foi levando-a para o quintal. Ela iria conhecer os pés de café que com tanto cuidado vovó mantém sempre pronduzindo grãos.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Quem quer subir no pé de tangerina?


es.gov.br

Renatinha gritava feito uma louca. Estávamos todos no quintal. Cada um na sua sombra preferida. Eu lia prazeirosamente José Lins do Rego, o seu  famoso Menino de engenho, que Alice de Tia Mariquinhas me emprestou até sábado.
Saímos todos correndo em direção ao pomar de tangerinas. É de lá que os gritos saiam. Será uma cobra? Um cachorro desconhecido? Um doido que invadiu o quintal?
De repente surge Renatinha, toda nervosa e com a mão esquerda respingando sangue. Nos aproximamos e confesso que cheguei a me arrepiar de pavor. Em sua mão havia cravado um espinho. Espinho de laranjeira? Não. Era de tangerina mesmo! Ah! Aquela gulosa tentou passar todo mundo pra trás e acabou se estrepando ...
Acontece que as primeiras tangerinas maduras surgiram num galho bem alto de um pé que fica  no fundo do pomar. Havíamos combinado de pegar a vara de bambu que Zefa usa para cutucar as frutas e enquanto um sacudiria o galho, os outros cuidariam de pegar as tangerinas sem deixá-las se esborrachar no chão.
Mas Renatinha, que deveria se chamar Magali, pois é tão gulosa quanto essa personagem infantil, resolveu pegá-las para chupar sozinha e se deu muito mal ...
Não me importo se ela está sofrendo dores, às vezes é necessário um bom susto para se aprender a não ser tão egoísta. Afinal, quem quer subir num pé de tangerina, há de saber que vai encontrar belos espinhos!

sábado, 2 de abril de 2011

Para quem chegar!



Vovó sabe que final de semana por aqui, vem visita na certa. Por isso, deixa sempre a cozinha abastecida de café, broa, bolos e muitos biscoitos. São tantos biscoitos! Ela tem o costume de guardá-los em latas, dentro de um saco branco bem limpinho. Eu gosto muito do biscoito de rapadura. Ele tem uma cor feia, mas é delicioso de se comer. Tem os de polvilho, de araruta, de fubá, de farinha de trigo e até de inhame.
Todos assados, que é para durar caso não venha gente para comê-los ...
Uma delícia também, são os biscoitos de polvilho fritos que Zefa faz para nós quando não está muito atarefada com os afazeres da casa. Quando chove, vovó faz um manjar chamado "bolinhos de chuva", bem recheado com queijo fresco e depois de fritos ela os passa numa mistura de açúcar refinado com canela. Huuumm! Esse é mesmo dos deuses!!!
Mas para quem chega, a mesa sempre farta é sinal da alegria que vovó sente ao ver todos que vem visitá-la. E  quem será que está chegando? Ouvi um grito lá fora:
- Ô de casa! Tô entrando ...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Apenas uma lousa

imagens emule/google

Ela tirou de dentro do baú. Todos nós vimos, mas ninguém falou nada. Pensamos apenas que escolheria uma de nós para presentear com aquela miniatura de quadro-negro. Sim, para nós, à primeira vista, o objeto não passava de uma miniatura de quadro negro, certamente feito para crianças brincarem de escolinha.
Limpou toda a poeira que havia se assentado nele, há anos dentro do baú. Depois pegou uma pontinha de pedra bem afiada e escreveu seu nome. Não gostou da caligrafia e apagou com um pedaço de tecido bem grosso. Escreveu de novo. Desta vez aprovou a escrita com um sorriso nos lábios. Em seguida olhou para nós como se estivesse admirada com o nosso silêncio. Disse:
- É a lousa do meu tempo de menina de grupo escolar.
Perguntei-lhe:
- A professora escrevia num quadro desse tamanhinho?
Com um novo sorriso vovó respondeu-me:
- Não, esse era meu. Cada aluno tinha a sua lousa para copiar o que a mestra passava na lousa da parede.
Fiquei em silêncio e, trocando olhares com os outros... Como poderia? Escrever e apagar? E como faziam para estudar em casa? 
Vovó parece ter  lido meu pensamento e logo explicou:
- Naquele tempo não havia cadernos e nem livros para alunos pobres. A mestra ensinava e, quem não decorasse a lição, ia envelhecendo no banco da escola...

terça-feira, 22 de março de 2011

Quem liga se ela desaparecer?

Sabemos que o homem sempre se estabeleceu em locais próximos aos rios e mares, para garantir seu sustento através da agricultura. A história do Egito é uma excelente demonstração desse fato, quando os homens, às margens do rio Nilo, organizaram um próspero aglomerado humano.
Com o passar do tempo, a humanidade evoluiu, mas água passou a ser tratada com desrespeito, sendo poluída e desperdiçada.
Aqui na casa da vovó, temos algumas nascentes no quintal. Desde pequenos, somos orientados a não poluir o curso d'água e a ajudar na preservação da vegetação que margeia seu leito. É um córrego pequeno, mas é dele que tiramos a água usada na horta, para matar a sede dos animais, para lavar nossas roupas, para limpar a casa, tomarmos banho e muitas outras coisas.
Quando faz muito calor, podemos nos refrescar no poço fundo, que fica bem na divisa entre o quintal e o pasto. É uma delícia!!!
Hoje, depois da aula, fui lá na loja do Ruizinho. É um comércio cheio de coisas variadas. Vi um jornal dependurado logo na entrada. Parei para ler as notícias e, na primeira página havia uma enorme foto do rio São Francisco,com os seguintes dizeres: Dia Mundial da água. Li o texto sobre a matéria. Descobri que hoje, 22 de março, é o Dia Mundial da água! Pouca gente se deu conta disso. Nem a minha professora comentou sobre o assunto. Se não fosse o jornal que Ruizinho dependurou na parede da loja, eu não ficaria sabendo disso... Pobre água! Quem liga se ela desaparecer???

domingo, 20 de março de 2011

Uma Super-Lua visita a vovó



A visita de hoje, chegou ontem.
Feito deusa, veio toda prateada!
Cheia de brilho e bem norteada.
Era enorme ... igual a ninguém! 
Foi uma Lua diferente de todas.
Uma Super-Lua que vale por dois.
Igual a esta, só passados vinte anos
depois! 

sábado, 12 de março de 2011

Esmola para São José

 Imagem de http://catequesesaojose.blogspot.com/2010_03_01_archive.html

É costume aqui na região, que os membros da irmandade tirem esmolas para a festa do santo. Isso acontece nos dias que antecedem o grande dia festivo, durante a novena. Este mês o santo que reúne o maior número de devotos é São José. Operário, porque trabalhava de carpinteiro e então é rogado pelos trabalhadores; esposo de Maria e pai adotivo de Jesus, portanto, pai de família exemplar e venerado pelos esposos.
Aqui é mais conhecido como São  José do Barreiro Velho. Conta os antigos, que morava lá Barreiro Velho um homem conhecido como Zeca do Pote, por ser ele um fazedor de potes de barro. Certa época, ele foi acometido de um mal nas pernas, devido aos movimentos constantes de amassar o barro com os pés para fazer suas artes. Pegou um tipo de bexiga que comia-lhe a pele de maneira assustadora.
As pessoas se afastaram dele por causa do mal cheiro nas bexigas, exceto o sacristão, enviado semanalmente pelo padre para ler passagens da Bíblia e entregar-lhe a comunhão.
Foi então que o tal sacristão, cansado de ter que fazer a penitência que lh incumbira o padre, sugeriu ao Zeca do Pote que fizesse uma promessa para o seu santo de devoção. Como não tinha confiança em nenhum santo em especial, o homem resolveu pedir ajuda ao que tinha o mesmo nome que o seu, José.
Batata! Foi rezar e conseguir o milagre. Ficou livre das bexigas e voltou ao trabalho. Uma vez recuperado tratou logo de cumprir a promessa que havia feito. Construiu uma capela em homenagem a São José. A história se espalhou e o povo começou a fazer romarias para lá.
O primeiro nome de devoção do santo foi  São José do Barreiro, porque naquele tempo o arraial chamava-se apenas Barreiro, mas com a descoberta de um novo barreiro pelos fabricantes de objetos de barro, o povo foi logo chamando o lugar de Barreiro Novo e, o local onde está a capela de São José  virou Barreiro Velho.
Então, como eu ia dizendo, hoje vieram tirar as esmolas de São José. Um grupo de mais ou menos umas  trinta pessoas que carregando a imagem do santo e que certamente iria aumentar no percurso. Eles entram nas casas, rezam e recebem as doações dos proprietários. Pode ser dinheiro, prendas para leilão ou quitandas para as barraquinhas. As doações seguem na carroça e o povo a pé, debaixo do sol quente, levantando a poeira vermelha da estrada.
Vovó, como é muito generosa, dá um pouquinho de tudo. Dinheiro, galinhas, ovos, doces e desta vez até um leitão da porca Rosa.  Um daqueles que os arrematadores vão disputar centavo por centavo... 





Obs: O poema é de Zé Laurentino, poeta e cordelista paraibano. A narração é de Rolando Boldrin.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Tem um disco de vinil no baú da vovó

Como a porta do quarto dos segredos estava aberta, logo entrei um tanto quanto cabisbaixa porque vovó estava muito quieta, calada e abraçada a um disco de vinil muito antigo. Logo notei que só poderia ser uma recordação de vovô. Ela sempre fica assim quando se lembra dele.
Sentei-me do seu lado e fiquei em silêncio. Ela passou a mão nos meus cabelos e me deu um beijo carinhoso. Seus olhos estavam molhados. Cheios de lágrimas. Nem precisa perguntar o motivo.
Logo em seguida chegaram Felipe e Renatinha. Só de olharem para mim entenderam o que se passava ali. Zefa também olhou desconfiada lá do corredor, mas foi embora para não causar mais tristeza.
De repende vovó disse:
- É um disco muito antigo que encontrei aqui no baú. Há muito tempo estava procurando por ele e hoje o encontrei aqui bem no meio desses porta retratos. Foi o avô de vocês que me  deu de presente quando ainda éramos jovens e apaixonados. Não sei se choro mais por ele ou pela bela voz de Dalva de Oliveira.
Nada falamos. Não sabemos quase nada sobre a cantora. Aquele disco muito antigo pareceu-nos estranho. Abraçamos vovó e saímos sem querer mexer no velho baú, que hoje estava bem aberto e revirado.
Minutos depois ouvimos o som daquelas músicas antigas saindo da velha vitrola.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Credo em cruz! Deus me livre ...





O quintal hoje está silenciosos. Ninguém atreveu-se a correr e aprontar gritaria. É quarta-feira de cinzas. Até o meio dia só nos foi permitido tomar o café da manhã, mesmo assim depois que chegamos da igreja. Todos fazem jejum.
Fomos à primeira missa na matriz. Padre Toledo celebrou em latim, como faz sempre durante a quaresma. Recebemos cinza na cabeça, em forma de cruz. Ele disse que é para purificar a nossa alma e despertar a nossa humildade pois, como Adão viemos do pó e  pó nos tornaremos após a morte.
Começou hoje a quaresma, tempo de muita reza bonita. Toda sexta-feira participaremos da via-sacra nas chácaras do caminho até a vila. Na casa de vovó é rezada a sexta estação e nós seguimos até a última que é na praça da matriz.
Como é muita gente, não fico com medo de andar no escuro. É que nesses próximos dias pode aparecer o que muita gente por aqui afirma de pé junto que já viu: lobisomem e mula sem cabeça.  
Na casa branca depois do mata-burro de baixo, mora uma mulher que teve sete filhos homens e, o caçula, dizem que uiva a madrugada inteira pelo pasto ... Credo em cruz! Deus me livre de encontrar com uma coisa dessas!

domingo, 6 de março de 2011

Delíciosas rosquinhas de farinha de trigo

Hoje é domingo de Carnaval. Todos saímos bem cedo para o centro da cidade. É domingo dos cordões de marchinhas carnavalescas. Coisa antiga, mas muito legal de se ver e participar. Tomamos um café bem reforçado e não viemos almoçar em casa. Por isso vovó descansou da tarefa de fazer o almoço de domingo. Descansou em parte, porque ela não pára de inventar coisas para fazer. Veja só o que ela fez para nós comermos com um cafezinho quentinho feito por Zefa: *rosquinhas de farinha de trigo!



Ingredientes:

1kg de farinha de trigo com fermento
2 ovos
leite
4 colheres de manteiga
1 xícara de açúcar
1/4 de queijo ralado

Modo de fazer:

Bata os ovos com o açúcar e a manteiga, acrescente o queijo, a farinha de trigo e um pouco de leite. Amasse e vá pingando leite e amassando até a massa ficar com a conscistência própria para enrolar as rosquinhas. O ponto ideal é quando não está grudando mais nas mãos. Deixe descasar por  30 minutos. Enrole as rosquinhas e coloque em tabuleiro untado com manteiga. Asse em forno quente até ficarem coradas. 

* Essa receita é da avó do meu filho. Ele a ajudou fazer as rosquinhas ... Vejam só como ele deve ter se divertido ... enrolou cada modelo! 


quarta-feira, 2 de março de 2011

Lamparina, um cão amigo!

Cachorro Vira Lata
imagem baixaki

O contato com os animais contribui para o nosso bem estar. Hoje, tive a prova disso. Aqui no quintal da vovó tem um bichinho muito especial, é o Lamparina. Ele veio para cá atrás de Zefa, quando ela foi colher arnica lá no Capão de Cima e levou matula para Renatinha que se empenhou em fazer-lhe companhia.
Lamparina vagava pelo mato, sentiu cheiro da comida e veio atrás delas. Foi ficando e ganhou a afeição de todos.É um vira-lata todo engraçadinho, de pelo bem liso e preto, olhos vivos e muito esperto. Dá sinal de tudo. Late muito à noite, mas fica uma fera quando vê passando na estrada Sô Zeca da mula manca. Aí, ele late até perder a voz, correndo atrás da mula ...Gosto muito do Lamparina e, hoje ele não arredou-se de perto de mim. Deitei-me na rede debaixo da mangueira velha, ali ele ficou bem quietinho me olhando e quando eu olhava ele balançava o rabo querendo me consolar. Sentiu que eu estava triste. É que vovó amanheceu doente e tiveram que levá-la para o hospital de Piteiras Novas, às pressas. Estou preocupada em saber notícias, mas sei que tenho Lamparina com seu jeito de cachorro amigo, pronto para me apoiar nesse momento de grande tristeza.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

NA LATA! Dias que voam e não voltam jamais...


by revista artesanato
Hoje acordei um tanto quanto nostálgica, se bem que para mim não é coisa anormal ... rsrsrsrs O baú da vovó nesta sexta é especial, porque não trago aqui objetos, mas divido com vocês um pouco das muitas lembranças que me restam na memória.
Lembrei-me de como nossas avós, mães e tias, praticavam uma jardinagem saudável, sem agredir a natureza com o acúmulo de materiais plásticos. Cultivavam suas plantas aproveitando as latas vazias de óleo, azeite, cereais, leite em pó e tantas outras.
Assim, diminuíam o lixo, deixavam a casa ornamentada com belas plantas e mesmo que de forma inconsciente, ajudavam a preservar o meio ambiente.
Lembro-me que era muito simples a técnica: após estar vazia, a embalagem era limpa e parcialmente cortada ou aberta na borda e às vezes do lado. No fundo faziam furinhos para a drenagem da água e, próximo à borda da lata fazia-se um ou dois furos para prender o vaso na parede com pregos. Isso para as latas pequenas, pois as outras eram depositadas no chão e se fosse na varanda, valia até pintar ou cobrir a lata com uma folha de papel de presente bem bonita.Quando vinha a ferrugem, trocava-se a lata e pronto!
Veio-me à memória as mudas de dinheiro em penca, plantadas em latas de óleo de soja ou azeite nas quais a planta ia crescendo em forma de cascata. Como ficavam lindas!!!
Na casa de minha avó materna, as folhagens plantadas em latas de 20 litros forradas com papel presente ou pintadas com tinta a óleo, combinavam muito bem com o chão de piso vermelho, o "vermelhão" do alpendre, que muitas vezes ajudei a dar-lhe brilho após a aplicação da cera branca misturada ao pó xadrez vermelho.
Ah! Dias que voam e não voltam mais! Agora, até as embalagens de latas tornaram-se escassas. Tudo é feito de plástico ou qualquer similar material sintético. 








segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

As margaridas da vovó





Hoje, depois que chegamos da escola, sentamos na sombra do pé de manacá e ficamos olhando as margaridas do jardim da vovó. Coitadinhas ... todas bem murchinhas debaixo do sol quente. Nem parecem irmãs daquelas belezuras que Zefa colheu e colocou no vaso de vidro para enfeitar a mesa da sala. Essas sim, estão todas cheias de vida!
Vovó nos explicou que flores precisam de sol, mas quando há em excesso elas se sentem prejudicadas. Ela nos tranquilizou quando percebeu que estávamos com o coração doendo de dó das margaridas. Disse que bastaria o sol se econder para elas ficarem vigorosas outra vez. Acreditamos e ficamos esperando o tempo passar ...

As Margaridas são flores belíssimas e fáceis de serem cultivadas em diversos tipos de solos, exceto em terrenos muito úmidos. Adoram o sol,  florescem no verão e no outono. As nossas possuem pétalas brancas e  o miolo amarelo. 
Conta a lenda que,  na idade média surgiu uma brincadeira com o nome de "bem- me- quer ou mal- me- quer", conhecida e praticada até os dias de hoje. Esa brincadeira consiste em desfolhar a margarida pétala a pétala para saber se o seu amor ainda lhe quer, quando a flor estiver totalmente desfolhada a última pétala é que será a resposta se ou seu amor:  ”Mal-me quer” ou “Bem-me-quer”.