Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

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sábado, 29 de janeiro de 2011

Cantoria com o Pau de Angú

Pau de angú.

Hoje a tarde estiveram alguns cantores acompanhando o Pau de Angú. Vovó gosta muito de ouví-los. Eles cantam músicas tão antigas que dá até um nó no coração só de pensar que ela fica triste se lembrando dos tempos em que era jovem.
Pau de Angú é mais velho do que a serra ... Já tem tem os cabelos branquinhos e quase não enxerga, mas ainda toca muito bem sua viola de Queluz, que ele disse ter comprado nessa cidade nos tempos em que era tropeiro. 
Ninguém sabe muito bem como ele aprendeu a tocar tão bem a viola. Os homens que o acompanham são seu filho Zé Mulato, seu neto Joãozinho e seu sobrinho Bimba. Pau de angú ganhou esse apelido porque gostava de amarrar sua rede nos galhos de um jaracarandá roxo, que os antigos daqui usavam para fazer colher de pau para mexer o angú. 
Depois de tanto cantarem para nós e a vizinhança, Zefa serviu o café que vovó mandou preparar, com muitos biscoitos, bolos e feijão com farinha e carne cozida. Prato preferido de Pau de Angú. Ele come e toma o café sem açúcar. Essa é a melhor parte da visita? Para nós é!!! Para os adultos é depois do café, quando começa o arrasta pé ...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Revistas proibidas






Com tanta sombra no quintal, nesses dias quente, o melhor que podemos fazer é ficar brincando num lugar bem fresquinho e de tempo em tempo lavamos o rosto e os pés no rego d'água.
Chegaram nossos primos lá de Bocaiúva. Vieram passar uma semana com vovó. Marta é nossa prima mais velha, já fez dezesseis anos e não quer saber de brincar de casinha ou outra coisa que ela diz ser diversão para criança. Vovó disse que não é para insistir com ela. Então, estamos brincando com Sarinha e Caetano que são da nossa idade. 
Marta sempre se deita na rede debaixo da parreira de chuchu e fica lendo um livro da enciclopédia que tia Zirinha deixou aqui quando se casou. Eu sempre olho para ela e  fico imaginando o que ela tanto lê naquele livro antigo. Hoje descobri o que era. Fiquei sabendo de um geito tão surpreendente que até fiquei com dó de Marta.
Meu tio Geraldo pára de trabalhar mais cedo todos os dias e vai para o bar. Bebe muito, vem para casa e dorme até o outro dia amanhecer. Por mais que vovó peça a ele para não fazer isso, ele continua bebendo e até já foi largado pela mulher que não aguentou uma vida tão sem compromisso como a do meu tio Geraldo.
Essa tarde, não sei por que ele veio direto para casa. Com a má sorte de Marta, ele chegou de mansinho perto da rede para ver o que ela estava lendo e foi logo arrancando-lhe o livro das mãos.
- Que pouca vergonha! Disse ele a Marta.
- O que é que eu fiz? Me dá o livro aí! Vovó! Vovó! Gritou Marta.
Assim que ouviram a gritaria todos correram para o quintal. Nós chegamos bem pertinho e ficamos olhando e nos cutucando uns aos outros. Marta continuava na rede, bem sentadinha com cara de menina inocente.
- Levanta daí menina! Gritou tio Geraldo.
- Que gritaria é essa? Anda vai lá para dentro. Disse vovó à Marta.
Marta abaixou a cabeça e levantou-se. Na rede estavam quatro revistas escondidas debaixo do seu corpo. Eram as revistas proibidas que ficavam no quarto de tia Lia. Só ela podia ler aquelas revistas e Marta as pegou. E agora? Quando tia Lia chegar e ficar sabendo vai contar tudo para meus tios, pais de Marta.Coitada da minha prima, vai tomar uma surra!
As revistas são para maiores de dezoito anos e Marta ainda tem dezesseis. Dizem que são cheias de histórias proibidas. Tem até um nome especial: fotonovelas. Histórias de gente que até beijo na boca tem coragem de dar.
Eu nunca li e nem quero lê essas revistas cheias de pecado. Só sei que elas tem pecado porque já ouvi uma conversa de tia Zirinha com mamãe sobre o tal Almanaque Capricho de Fotonovelas.
Depois dessa confusão toda, vovó mandou todos nós sentarmos na varanda da cozinha para esperar o jantar.



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

As dálias estão floridas e vovó está muito feliz!

dália marraquete



http://louro-louro-fotos.blogspot.com/

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As dálias estão floridas e vovó está muito feliz! Ela ama a dálias vermelhas, principalmente da espécie marraquete. Confesso que também tenho uma queda por elas. Ao lado das roseiras, são as dálias que alegram os jardins. Ficam bem em qualquer lugar que forem plantadas. Tem gente que não tem jardim e as planta ao redor da casa ou só na porta da sala em moitas bem vistosas. Elas não exigem muitos cuidados.
Zefa gosta de colher algumas para colocar na jarra da sala, mas vovó não gosta e sempre fica brava com ela. Hoje Zefa colheu muitas ... de todas as cores! Eu acho um pecado tirar as coitadinhas tão alegres do pé cheio de outras coleguinhas e colocá-las de castigo numa jarra cheia d'água.
Vovó explicou-nos que para ter os pés de dália sempre floridos precisamos plantar os bulbos e regá-los com abundância de água; manter os pés em local fresco e as pontas e  flores expostas ao sol; também retirar as flores velhas para estimular o aparecimento das novas. Disse que em lugares frios a planta não brota e nem floresce no inverno.  

sábado, 22 de janeiro de 2011

Dona Mariquinha do Sô Jóvis




Ouvi o barulho da tramela do portão de entrada. Corri e olhei pela janela para ver quem chegava. De longe já avistei aquela saia de chita vermelha com estampas verdes e amarelas, ao lado do homem com seu terno azul celeste e a boina branca. Os dois de pés no chão. Ela ainda usava guarda-sol e luvas de renda.
Eram Sô Jóvis e dona Mariquinha que moram lá no Capão dos Ipês Roxo. Sô Jóvis foi muito amigo de vovô. Por isso, sempre vem visitar vovó e trás com ele a mulher. Eles são bem velhinhos, mas tem uma energia de fazer inveja ... Corri e avisei à Zefa que eles estavam entrando. Ela os convidou para assentar enquanto Renatinha e eu fomos procurar por vovó que estava passando a vista nos trabalhos de capina da horta.
- Dia, Sô Jóvis! Dona Mariquinha, como vai a comadre? Disse vovó ao chegar na sala.
Nós saímos de fininho e fomos para a varanda. Como vovó não gosta de criança na sala ouvindo conversa de gente grande, a gente fica nos arredores para não perder as novidades. Já me disseram que é coisa muito feia, mas eu não ligo, quero mesmo é saber de tudo tintin por tintin! Hoje não teve muito o que se ouvir, além de falarem pouco, os dois só reclamam falta de dinheiro.
Dona Mariquinha trouxe doce de pau de mamão e farinha de goma para a vovó. E como todos que aqui chegam, não foi embora de mãos vazias. Ganhou um dinheirinho para comprar sapatos. Sempre eles pedem dinheiro para comprar sapatos, mas não compram e dizem que guardam tudo debaixo do colchão. Na verdade, eles sempre andaram descalços. Se arrumam todos e saem por aí achando que estão elegantes com aquelas roupas coloridas e sem sapatos. Aqui na região todos já se acostumaram de vê-los daquele geito.  
Zefa serviu um café com biscoitos. Eles tomaram e depois foram embora dizendo que só não esperariam o almoço porque tinham passar na casa de mais dois compadres.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Havia uma caixa na janela



O sol já estava brilhando quando acordamos. Na verdade, bem antes das seis da manhã. Vovó já havia tomado café e estava no quarto dos segredos. É o único quarto da casa no qual  criança não pode entrar sem permissão. Fica quase sempre fechado à chave e lá dentro tem muitas coisas velhas e empoeiradas, além do baú ... Quando passei no corredor a caminho da cozinha, vi que ela tirando alguma coisa lá do fundo do velho baú. Como estava faminta, não quis parar para ver o que era, mas assim que tomei o meu café da manhã chamei minhas primas e fomos até o quarto dos segredos.
Não tivemos muita sorte, vovó já havia fechado a porta e nenhuma de nós teve coragem de perguntá-la o que havia feito por lá. Muito curiosas saímos conversando sobre o que poderia ser e fomos  apanhar uns gravetos secos para Zefa usar no fogão. Aproveitamos e catamos também alguns cajuzinhos maduros.
Quando nos aproximamos da porta da cozinha para deixar os gravetos, Zinha olhou para cima e viu em uma das janelas uma caixa decorada com tecido de bolinhas. Fez um sinal para que todas nós olhássemos.  
Entramos para dentro da casa,  percorremos todos os quartos e não achamos a caixa. Foi aí que lembramos do quarto dos segredos e do mistério da vovó logo cedo. Percebendo nossa agitação vovó aproximou-se e disse:
- Já sei! Vocês estão curiosas para saber o que tem na caixa que coloquei na janela, não é?
Nosso sorriso denunciou a intenção. Vovó abriu a porta e nos mostrou a caixa cheirando a mofo que ela havia colocado na janela para tomar sol. Dentro da caixa alguns chapéus que foram usados por ela quando ainda era uma mocinha! Como são lindos! Como eram elegantes as mulheres daquele tempo!








quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A rãzinha vaidosa




Passamos boa parte do dia lavando roupas na bica. Lá no fundo do terreno passa um córrego de águas bem clarinhas e meus tios fizeram um poço com uma bica bem forte que nós usamos para lavar as roupas e tomar banho quando está calor. Zefa não deixa vovó fazer trabalho pesado. Por isso, ela levou um banquinho e ficou olhando de longe lá da sombra de uma goiabeira. Nós aproveitamos para brincar na água e refrescarmos o corpo. Eu até já aprendi a bater a roupa branca na pedra e estender na areia para alvejar. Estou lavando direitinho, só não tenho muita força para torcer os lençóis.
À tardinha sentamos na varanda da sala. O rádio estava meio chiando e ninguém entendia muito o que o locutor falava. Então, Zé Luís teve uma ideia:
- Vovó! Conte uma história daquelas que deixam uma lição?
Vovó não respondeu. Ficou olhando para a escuridão que chegava mansinha, pois ela só não aparece quando temos lua cheia.  De repente começou a falar:
- Rita era uma rãzinha muito vaidosa e isto preocupava os seus pais. Dentre as coisas nada bonitas que fazia, uma era muito perigosa.
Em vez de comer bichinhos pequenos, como fazem todas as rãs, Rita preferia enfrentar bichos grandes, até maiores que ela, só para derrotá-los e, mais tarde, comê-los.
Um dia, ela pensou que poderia ficar tão grande como uma cabra. Quando disse isso a seus pais, eles ficaram tristes e aborrecidos. Disseram a ela que era muito perigoso, mas Rita respondeu:
- Vou, vou, vou ...
Rita procurou as amigas para contar o que pretendia fazer.
-Não faça isto- disseram elas. Você nem sabe o que pode lhe acontecer.
Não adiantou aconselharem a rãzinha. Ela reuniu todos os bichos amigos, pedindo que viessem, na semana seguinte, assistir ao que ela iria fazer.
Os bichos, em grande número, se reuniram em volta de Rita que, cheia de orgulho e vaidade, pediu que eles soprassem com toda a força dentro de sua pequena boca. Eles, então, começaram a soprar, e Rita foi inchando e ficando cada vez maior.
Tudo ia muito bem: Rita aumentava de tamanho cada vez mais até que se ouviu um estrondo: PUM!!!!
Rita, a rãzinha vaidosa, havia estourado... e todos os bichos começaram a chorar muito. Mas cada um dos seus amigos guardou a lição: querer ser mais do que se é, nem sempre traz felicidade.   

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma cobra no pé de limão



Depois do almoço sempre arrumamos uma brincadeira mais leve para nossa diversão. Hoje,decidimos ir pescar na lagoa da porta da cozinha, logo abaixo do laranjal. Eu não gosto de ficar perto dos que conversam demais, espantam os peixes e depois reclamam que eles não chegam na ísca. Atravessei a pinguela do bambuzal e fiquei bem quietinha debaixo de uma mangueira. Quase todos estavam pescando.
Vovó preferiu ficar na rede descansando e conversando com Zefa. Os capinadores que ela chamou para tirar o mato que cresceu com a chuva,estavam espalhados em volta da casa limpando tudo que viam. De repente um grito:
-Cobra! Socorro! Socorro!
Todos olhamos assustados, mas olhamos primeiro ao nosso redor. Sabe como é ... aquela sensação de que o perigo está ao lado ... Segundos depois, avistei Renatinha se sacudindo e apontando para o pé de limão. um limoeiro tão pequenininho que de longe deu para avistar a cobra toda enrolada nos finos galhos. Alguém disse aos gritos:
- Fica bem quietinha que eu vou até aí.
Renatinha saculejando gritou novamente:
- Aaaaaaah! Ela tá pondo a língua para fora!
Nesse instante ouvimos um barulho. Era Zé das Moças, um dos homens que estava capinando o quintal. Ele deu uma foiçada na cobra e esmagou a cabeça da bicha com a enxada. Aí, saiu gente de todos os cantos. Todos que estavam na casa da vovó queriam ver a cobra morta. Eu também corri porque não podia ficar sem ter a certeza de que haviam matado o terror daquele dia.
Os homens mediram o comprimento dela. Uma jararacuçu com nada menos do que 2,10 m, de cor cinza bem  escura e com manchas amarelas. Foi um susto!!! E o pior disso tudo é que depois de vê-la morta, Marcelo e Zé Luís, que antes correram para bem longe sem ajudar a salvar a Renatinha, começaram a desfilar com a comprida      exibindo-a como se tivessem tido tal bravura! Vê se pode uma coisas dessas?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Para um sono tranquilo, travesseiro de macela ...


Flor de macela seca

Flor de macela em seu ambiente natural

Macela é o nome popular de um pequeno arbusto (ou capim) que nasce no campo de cerrado, floresce e, é das suas flores que vem esse cheirinho delicioso que sinto sempre que deito a cabeça em um travesseiro aqui na na casa da vovó. Ela só faz travesseiro de retalhos ou de algodão quando não acha flor de macela. Geralmente é no tempo da seca e do frio que se faz a colheita. Nesses meses, quem chega aqui tem que ajudar a colher, separar e encher os travesseiros. Todos os anos vovó gosta de trocar a macela dos travesseiros.
Certa vez lhe perguntei o motivo de tanto zelo e ela me disse que é para evitar as alergias, que também o cheiro da macela com o tempo vai exalando e trocar as flores é bom para mantê-los sempre perfumados. Mas o que eu gosto mesmo é da sensação de tranquilidade e conforto que o cheirinho da macela me dá. durmo muito bem durante toda a noite. Nem acordo com aqueles tic de medo ...       




segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Cuidando de violetas


Vovó nos deixou ajudá-la a trazer os vasinhos de violeta do jardim para a varanda. Ela explicou que com o tempo chuvoso é o melhor a se fazer, porque violetas não gostam de muita umidade. Se ficam em terra molhada acabam se encharcando e morrem. 
Enfileiramos todos eles na bancada bem perto da parede da sala e vovó colocou em cada um uma pitadinha de fermento em pó. É um santo remédio para fazer as flores nascerem bem grandes e viçosas.
Quando o tempo ensolarado estiver firme, levaremos todos os vasinhos de volta para a sombra do pé de manacá. Violetas não gostam de ficar expostas ao sol. Nem sol, nem chuva. Deveria se chamar, flor dengosa! 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Almoço de domingo


Tia Geraldina foi a primeira a chegar para o almoço. Vieram ela, tio Joãozinho e Fabrício, os outros filhos dela já estavam aqui. Ela chega sempre muito cedo para  matar os frangos e colher as verduras que vovó vai cozinhar. Como vovó faz questão de fazer toda a comida no domingo. Minhas tias, mamãe e Zefa preparam os ingredientes e lavam a  louça.
Mais tarde chegaram a família de tia Lia e tio Anacleto. Tia Zirinha está viajando para Passo Alto, tio Zezé foi levar o gado para a Mina Seca e tia Eulália está de resguardo e não pode sair de casa. Apesar de terem faltado muitos da família, o almoço foi bastante animado.Comemos frango com ora-pro-nobis, arroz, feijão, angú e verduras. De sobremesa, compota de figo, queijo e doce de leite.
Eu não gosto de ora-pro-nobis, mas tive que comer porque todos dizem ser muito bom para a saúde. Ora-pro-nobis não se planta na horta, nasce no mato, perto de cercas no quintal e só quando chove é que fica viçoso para se comer. Graças a Deus! Já pensou se tivesse que comer o ano inteiro?
Depois do almoço tia Lia nos chamou para ir catar pequi no campo. Gosto do cheiro da fruta. Minhas tias tiram o azeite da semente, cozinham o pequi no arroz e também fazem licor. Conseguimos achar uma boa quantidade e até uns cajuzinhos do campo, tão madurinhos!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Maria Touca


Hoje Maria Touca veio visitar a vovó logo cedo. Ela mora  na Serra do Bené e vem a pé até o sítio. É muito longe e ela que caminha sempre rápido nem liga se as pernas ficam doloridas. Daqui vai passar em outras casas da redondeza só para tentar vender seus crochês.
Seu nome de batismo é Maria da Conceição, mas todos a conhecem por Maria Touca. O apelido é pelo costume de andar sempre com uma touca cobrindo os  cabelos e as orelhas. Diz que é para não pegar friagem nos ouvidos.
Durante a semana ela tece muitos galinhos bicos de bule e borda panos de prateleira, coisas que sai por aí vendendo e ganhando um dinheirinho para viver. É sozinha na vida. Vovó gosta muito dela e quando ela vem sempre lhe dá algumas coisas para levar. Em retribuição ela sempre trás um presentinho. Desta vez, trouxe um galinho bico de bule muito bonitinho. Já havia dado outros para vovó, mas Zefa sempre se esquece de tirá-los do bule antes de esquentar o café e, quando o fogo está alto acaba queimando o coitadinho.
Desta vez vovó comprou uns panos para forrar a prateleira da cozinha. Eles são  feitos de saco alvejado e decorados com renda de crochê. São muitos simples, mas aqui não se passa sem eles.
Maria Touca contou também as novidades lá da vila. Disse que vai haver leilão na praça da igreja durante a novena de São Sebastião; contou que a mulher do dono da farmácia cortou o cabelo feito homem e que está todo mundo abismado de ver a sua coragem; ainda disse  que os rapazes do time de fora tiveram a coragem de fazer uma galinhada para vender lá no campo, com cinco galinhas que roubaram de dona Mariquinha do Sô Carmelo. É mesmo uma fofoqueira! E eu ouvi tudo isso sem querer, fiquei no quarto da sala enquanto vovó conversava, eu e as outras crianças, brincando, pois vovó não gosta que criança escute conversa de gente grande ... 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Jarras e bacias do baú da vovó

Vovó tem um baú muito antigo que ela ganhou de herança da sogra. É uma caixa enorme onde ela guarda coisas que já não se usa mais. Hoje ela abriu o baú e nós corremos para ver o que havia lá dentro. Cada vez que ela  levanta aquela tampa, novas descobertas passam a fazer parte do nosso mundo.
Ela queria pegar um conjunto de jarra e bacia  para enfeitar a cômoda do quarto dela. Nossa! Vovó tem tantas jarras e bacias que nem sei qual é mais bonita do que a outra. Perguntei se queria que eu apanhasse umas flores para colocar na jarra e ela começou a rir. Depois que me viu sem graça, explicou:
- Essas jarras não são para colocar flores, elas servem para colocar água e a bacia para lavar o rosto ou as mãos com a água que está na jarra. Quando me casei não havia torneiras dentro de casa e  usávamos uma de porcelana ou louça em cada quarto, uma de estanho na sala de visitas e uma de esmaltado na cozinha.  
Achei estranho, mas o que não é estranho dentro daquele baú? Depois que escolheu a sua preferida, vovó trancou novamente o baú, prometendo nos mostrar outras curiosidades depois.

Vejam as jarras e bacias que estão dentro do baú da vovó!
















quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Três grãos de feijão e um vagabundo




A chuva hoje esteve bem mais forte. Passamos o dia tentando encontrar coisas diferentes para em casa. Rui tem um tabuleiro de damas e xadrez e até deu para divertimos com um campeonato improvisado. Ritinha e Lia que são bem mais novas do que eu, foram brincar com as bonecas de pano que Zefa faz para elas nas horas em que não está ajudando vovó na cozinha. Zefa foi criada pela bisa " Sá Maria "  e ficou morando com vovó depois que ela morreu.
Uma das coisas que mais gostamos nesses dias chuvosos são os bolinhos de chuva polvilhados com açúcar e pó de canela. Comi muitos no lanche da tarde, eu e os outros, com leite queimadinho! Depois vovó nos chamou para ouvir suas histórias do tempo antigo. Eu gosto muito de escutá-las e fico imaginando como o tempo é injusto em não esperar a gente nascer e crescer para mudar os costumes das pessoas. Do jeito que conta, parece que viver naquele tempo era bem mais fácil. Gosto da modernidade, mas me encanto demais com tudo que descubro sobre os que viveram antes de mim.
A história de hoje nos deixou uma bela lição de como é importante a gente não ser preguiçoso e trabalhar sério para conseguir se dá bem na vida. Me convenci de que dinheiro realmente não cai do céu, temos que dar duro na vida para tê-lo e ser esperto para não ficar sem ele.
Vovó contou que no Capão da Serra havia um homem muito trabalhador. Ele tinha belas plantações, pastos verdinhos com gado leiteiro e um pomar de dar inveja na vizinhança. Vivia muito isolado. Morava com ele apenas um sobrinho que gostava de passar o tempo se divertindo no buteco do Cardoso, namorando as moças na praça da igreja grande ou jogando em casas de seus amigos. Só ia em casa para dormir, aproveitando-se da bondade de seu tio que o sustentava sem reclamar.
Certo dia, o tal homem trabalhador teve um mal súbito e morreu, deixando para o rapaz toda a sua riqueza.
O jovem que já não gostava de trabalhar, ficou maravilhado com tanta coisa que ele poderia vender para viver com os lucros. Aos poucos foi vendendo os animais, os grãos já colhidos e armazenados e também gastando todo dinheiro que arrecadava com as vendas. Não se lembrou de cuidar das terras que gerava riqueza para o tio. Deitado na rede passava horas pensando em coisas que poderia fazer para se divertir.
Um dia, passou na sua porta um mendigo e lhe pediu esmola. Ele lhe deu três grãos de feijão e proferiu uma frase de desprezo:
- Vai trabalhar vagabundo!
Continuou naquela vida de exageros, até que um dia precisou de dinheiro e não encontrou nada para vender. Olhou para as terras e só avistou mato. O que pode posso fazer? Pensou ele.
no mesmo dia passou por lá um homem muito elegante, montado num belo cavalo e perguntou-lhe se ele queria vender aquelas terras. Ele disse:
- Compro tudo com metade do dinheiro que consegui com os três grãos de feijão que você me deu. Lembra-se do vagabundo?
Sem ter outra alternativa, vendeu as terras para continuar na boa vida de sempre. Gastou tudo e caiu na miséria. Então, passou a vagar de porta em porta pedindo esmolas para sobreviver, sem ter coragem de mostrar o rosto para não ser reconhecido pelas pessoas.  

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Dia chuvoso no quintal da vovó




Choveu a noite toda. Gosto de dormir ouvindo o barulho da chuva. Estamos em férias e vamos passar um bom tempo por aqui. Vovó fica tão contente com a casa cheia de netos que até deixou-nos fazer uma escala para organizar melhor o dia de cada dormir no quarto dela. Tem muitos quartos por aqui, mas dormir no quarto da vovó é mais gostoso ... Essa noite foi a minha vez. Dormi muito bem, mas acordei primeiro do que meus irmãos e meus primos. Senti vontade de bater o sino e acordar todos eles, se não fosse o olhar de reprovação que certamente vovó faria para mim, teria feito isso. Não gosto de ficar sem uma companhia para brincar. Penso que devo estar azarada.
Eu acordei tão cedo por culpa de dona Zazá. Ela veio com o dia ainda escuro bater na janela do quarto  para pedir licença à vovó e colher ervas na horta. Disse que o marido dela teve febre a noite toda e  que estava decidida a curar o homem dando-lhe um belo chá . Vovó permitiu, mas não acreditou em dona Zazá. Sabe que a doença dele se curada de manhã, volta atacá-lo à noite. Só vai parar quando ele deixar de beber cachaça. O Cardoso dono do buteco já deve estar enjoado de ver a cara dele por lá.
Depois que acordo não consigo mais ficar na cama. Troquei de roupa, fiz minha higiene habitual e fui para a cozinha. Zefa já estava coando o café. O cheiro de broa assada era tão bom que não resisti. Pedi a ela para mim servir o café antes dos outros. Foi bom encher o estômago, mais muito ruim ter que ficar sentada esperando pelos outros.
Quando todos já haviam tomado o café, vovó foi logo avisando:
- Hoje ninguém brinca lá no quintal! Está chovendo e há lama por toda parte.
Escutamos e ficamos calados. No fundo todos queriam desobedecer essa ordem, mas não tínhamos coragem. Passar a manhã brincando dentro de casa é demais! Seria ficar ouvindo o tempo todo que isso não pode, aquilo não pode ... Estávamos num clima de tristeza total.
De repente, o primo Rui debruçado na janela avista o pé de manga e diz:
- Tem manga madura lá embaixo. Quem vai lá?
Foi um silêncio geral, até que ele falou:
- Se ninguém quer ir, vou sozinho, mas não me pessam mangas.
Olhou para o corredor e não viu ninguém. Estavam todos na cozinha. Rui disparou quintal abaixo e atrás dele fomos todos nós. O barro cobria nossos calçados e respingava nas pernas. Rui foi na frente e logo subiu na mangueira todo valentão. Pegou uma manga e começou a chupar olhando pra baixo para nos fazer inveja. Não aguentamos e fomos subindo aos poucos. Algumas meninas, inclusive eu, escorregamos e caímos daqueles galhos molhados e cheios de lodo. Toninho e Mandu  ficaram com pena e mandaram lá do alto algumas mangas para nós. E assim, de uma mangueira fomos passando para outra, o pomar da vovó tem muitas variedades de mangas, alguns pés com mais de vinte anos, enormes e cheios de galhos.
O tempo passou e só descobrimos isso quando Zefa tocou o sino avisando que o almoço estava pronto. Ela faz isso todo dia para chamar os que estam no curral e na horta.
Levamos um susto! E agora o que iríamos fazer? Mais uma vez todos calados olhamos uns para os outros e saímos correndo em direção à varanda da cozinha. Lá, de pé e com um cara de quem não estava gostando do que viu, vovó Teteca falou:
- Não quero netos sujos sentados à mesa para o almoço!
Tratamos logo de nos lavar e trocar a roupa para saborear aquele belo almoço. 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O portal encantado da casa da vovó


PASSE PELO PORTAL ENCANTADO DA CASA DA VOVÓ E DESCUBRA A NOSSA ROTINA

Vovó é muito organizada. Sua casa segue com certo rigor uma rotina que a deixa sempre preparada para qualquer situação. Se chega visita, a casa está limpinha e a dispensa cheia de quitandas. Se é dia de algum santo tem sempre uma flor no jardim para enfeitar o oratório. Se quiser variar o cardápio tem verdura fresquinha na horta, ovos nos ninhos, frangos no galinheiro e muitas traíras na lagoa. São tantas coisas que levará um bom tempo para eu contar tudo aqui nesse diário ...
A rotina que me encanta é contar sobre o que os outros fazem na casa da vovó e aproveito para me divertir nos melhores espaços dessa casa.

A rotina desse blog será:

Na 2ª feira    saberemos como a vovó cuida do jardim.
Na 3ª feira     descobriremos alguns segredinhos e truques
                      da vovó.
Na 4ª feira    conheceremos o quintal da vovó e lá faremos 
                      muitas brincadeiras.
Na 5ª feira     desfrutaremos das histórias que a vovó sabe
                      contar.
Na 6ª feira    desvendaremos as curiosidades do baú da vovó.
No sábado     conheceremos as visitas da vovó.   
No domingo  participaremos do almoço em família. 






domingo, 9 de janeiro de 2011

BENZA DEUS, QUE BOM QUE VOCÊ VEIO !!!

Entre e fique bem à vontade! Afinal, já somos amigos. A dona dessa casa está muito feliz com a sua presença!!! Venha , vou te apresentar à nossa anfitrião.
Vovó está na cozinha nos esperando com um cafezinho quentinho, tem chá, chocolate, sucos e muitas quitandas que ela preparou especialmente para o nosso encontro de hoje.




 Lá na cozinha a mesa é farta e muito espaçosa.Tem sempre um lugar para quem chegar! Então vamos lá? É só seguir o corredor e descer as escadas...



Escolha a sua xícara e sirva-se. O café está no fogão para não esfriar. As xícaras da vovó são muito antigas e bonitas.

Se preferir o café na caneca esmaltada, a vovó tem muitas ali na prateleira ...


Experimente as quitandas da vovó .... Huumm!!! Ela tem mesmo mãos de fada na cozinha!






Vou contar um segredinho ... Essa é a xícara preferida da vovó!



Depois de provar todas essas gostosuras , não deixe de ler sobre os outros segredinhos que eu resolvi contar  sobre a vovó na postagem anterior ...

Obrigada pela visita e volte sempre que sentir saudades da vovó!
Na quarta-feira divulgarei a rotina semanal do NA CASA DA VOVÓ.

MEMÓRIAS DE MINHAS AVÓS



Se minhas avós fossem vivas, a materna teria 96 e a paterna 112 anos. Eram pessoas muito diferentes e por isso como neta tenho sentimentos variados a respeito delas. Nesse blog, inicialmente não falarei de avôs, porque eu não conheci os meus e acho difícil falar daquilo que desconheço intimamente. Quando nasci, ambos já eram falecidos há anos.
Minha avó paterna, que chamávamos de vovó Tiana, aparentava ser triste, era calada, sempre vestida com uma saia franzida ou pregueada e uma blusa tipo camisa com manga três quartos, feitas do mesmo tecido. Gostava de fazer coque nos cabelos e usar sandálias bem rasteiras. Às vezes amarrava um lenço sobre os cabelos e colocava um avental. Mesmo morando numa cidade grande, cultivava hábitos rurais.
Seu fogão era a lenha, dependurava carnes no bambu para defumar e cobria seu rádio com um pano branco, que na verdade aparentava ser cinza devido à fumaça da cozinha. Embora tenha nascido num tempo em que as moças se casavam cedo, ela não seguiu a regra. Teve filhos na idade madura e sendo meu pai um dos mais novos, a diferença de idade entre ela e  nós netos fazia certa diferença. Talvez por isso nossos laços não tenham sido tão estreitos como é com nossas tias.
Lembro-me que ela gostava muito de frango com quiabo e angú, também de verduras, algumas dessas que se colhe no mato ... Dizem que ela era filha de uma índia que foi pega no laço para se casar com o meu bisavô. Mas como essa história é comum aqui em Minas, não dou muito crédito quanto a veracidade do fato.
Da minha avó materna sei quase toda a sua história de vida. A nossa convivência não era tão cotidiana quanto com a minha avó paterna, mas todos os momentos que passamos juntas foram de excelente qualidade. Até nos seus momentos de doença! Por isso, aprendi muito sobre ela e com ela, o restante minha mãe transmitiu.
Chamávamos a ela de vovó Chica. Era morena de olhos azuis, usava os cabelos em coque e sempre grisalhos, suas roupas eram modernas, gostava de calça comprida;, cantava no coral e era mãos de fada na cozinha.
Morava no interior. Além do seu fumegante fogão a lenha, lembro-me da bica de água onde lavava suas vasilhas areando com cinza e areia. Eu tinha vontade de arear as panelas com ela, mas pela minha idade ela não deixava e então eu ficava brincando no rego d` água com minhas primas.
Era muito rezadeira. Seu quarto tinha muitos santos e quadros religiosos. ela tinha um baú que pertenceu à sogra dela e a cruz de madeira que meu avô segurou no leito de morte. Essa hoje está sob meus cuidados.
Vovó casou-se muito jovem. Casamento arranjado pelo meu bisavô. Ela foi obrigada a se casar! Contou-nos certa vez que, no dia do seu casamento, quando se aproximava a hora de ir para a igreja, ela subiu e se escondeu num enorme pé de laranja. Meu bisavô e seus irmãos a encontraram e sacudiram a laranjeira até ela cair no chão. Não teve outra saída, casou-se e teve 9 filhos, ficando viúva aos 36 anos de idade.A partir daí dedicou-se a criar os 9 filhos e mais 2 sobrinhos como filhos adotivos.
Era famosa por ser uma boa parteira. Gostava do almoço com a família no dia das mães, no  Natal e no dia do seu aniversário. Fazia questão de bolo e presentes! Sua amabilidade conquistava a todos e por isso sua casa ficava   sempre cheia. Ninguém a visitava sem tomar " café com biscoito" . Por isso, no dia de sua morte, durante o velório, minhas tias serviram "café com biscoito" para quem quisesse.
Foi uma mulher do tempo em que vivia. Não se privava de nada pela idade ou preconceitos. Torcia para o time do Cruzeiro, jogava na loteria, votava e como não pode estudar na juventude, completou o ensino básico aos 57 anos.
Três coisas ela cultivava: a união da família, o respeito à opinião dos outros e não falava mal das pessoas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

BENVINDOS AO BOLG NA CASA DA VOVÓ!
AVISO A TODOS QUE AQUI ESTIREM QUE A INAUGURAÇÃO SERÁ NO  DOMINGO DIA 09/01/2011. COM UMA POSTAGEM HISTÓRICA.
NÃO PERCAM!!  ESPERO POR VOCÊS!