Esse blog é uma homenagem às minhas avós, às avós do meu filho e a todas as mulheres que tem a doce experiência de serem avós. Acredito que no âmbito familiar poucas coisas são tão saudáveis quanto o estar na casa da vovó, desfutar de sua companhia, de seus quitutes e fazer descobertas diárias sobre o mistério que envolve a distãncia entre as coisas do tempo da vovó e a nossa vida cotidiana, principalmente quando somos crianças.

Seguidores

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Três grãos de feijão e um vagabundo




A chuva hoje esteve bem mais forte. Passamos o dia tentando encontrar coisas diferentes para em casa. Rui tem um tabuleiro de damas e xadrez e até deu para divertimos com um campeonato improvisado. Ritinha e Lia que são bem mais novas do que eu, foram brincar com as bonecas de pano que Zefa faz para elas nas horas em que não está ajudando vovó na cozinha. Zefa foi criada pela bisa " Sá Maria "  e ficou morando com vovó depois que ela morreu.
Uma das coisas que mais gostamos nesses dias chuvosos são os bolinhos de chuva polvilhados com açúcar e pó de canela. Comi muitos no lanche da tarde, eu e os outros, com leite queimadinho! Depois vovó nos chamou para ouvir suas histórias do tempo antigo. Eu gosto muito de escutá-las e fico imaginando como o tempo é injusto em não esperar a gente nascer e crescer para mudar os costumes das pessoas. Do jeito que conta, parece que viver naquele tempo era bem mais fácil. Gosto da modernidade, mas me encanto demais com tudo que descubro sobre os que viveram antes de mim.
A história de hoje nos deixou uma bela lição de como é importante a gente não ser preguiçoso e trabalhar sério para conseguir se dá bem na vida. Me convenci de que dinheiro realmente não cai do céu, temos que dar duro na vida para tê-lo e ser esperto para não ficar sem ele.
Vovó contou que no Capão da Serra havia um homem muito trabalhador. Ele tinha belas plantações, pastos verdinhos com gado leiteiro e um pomar de dar inveja na vizinhança. Vivia muito isolado. Morava com ele apenas um sobrinho que gostava de passar o tempo se divertindo no buteco do Cardoso, namorando as moças na praça da igreja grande ou jogando em casas de seus amigos. Só ia em casa para dormir, aproveitando-se da bondade de seu tio que o sustentava sem reclamar.
Certo dia, o tal homem trabalhador teve um mal súbito e morreu, deixando para o rapaz toda a sua riqueza.
O jovem que já não gostava de trabalhar, ficou maravilhado com tanta coisa que ele poderia vender para viver com os lucros. Aos poucos foi vendendo os animais, os grãos já colhidos e armazenados e também gastando todo dinheiro que arrecadava com as vendas. Não se lembrou de cuidar das terras que gerava riqueza para o tio. Deitado na rede passava horas pensando em coisas que poderia fazer para se divertir.
Um dia, passou na sua porta um mendigo e lhe pediu esmola. Ele lhe deu três grãos de feijão e proferiu uma frase de desprezo:
- Vai trabalhar vagabundo!
Continuou naquela vida de exageros, até que um dia precisou de dinheiro e não encontrou nada para vender. Olhou para as terras e só avistou mato. O que pode posso fazer? Pensou ele.
no mesmo dia passou por lá um homem muito elegante, montado num belo cavalo e perguntou-lhe se ele queria vender aquelas terras. Ele disse:
- Compro tudo com metade do dinheiro que consegui com os três grãos de feijão que você me deu. Lembra-se do vagabundo?
Sem ter outra alternativa, vendeu as terras para continuar na boa vida de sempre. Gastou tudo e caiu na miséria. Então, passou a vagar de porta em porta pedindo esmolas para sobreviver, sem ter coragem de mostrar o rosto para não ser reconhecido pelas pessoas.  

Nenhum comentário: